domingo, 31 de outubro de 2010

NO GINECOLOGISTA



          Desde pequena a idéia de ir a um ginecologista me aterrorizava. Nem meus pais me viam nua, como então conceber a ideia de um desconhecido me olhando por um ângulo que eu jamais serei capaz de me ver?
            Protelei a tão temida visita até o último momento, mas saúde é saúde, então, como costumo fazer em situações de perigo, fui logo de uma vez para acabar com a tensão e marquei com o médico da família.
            Na sala de espera, fingindo ler uma daquelas revistas velhas típicas de consultório, não conseguia me conformar com a naturalidade das mulheres que estavam ali. Um homem, com o qual não tinham intimidade nenhuma, ia examiná-las! Como podiam estar tranquilas?
            Quando ouvi meu nome juro que, por um instante, desejei com toda a força do mundo que um furacão passasse por ali e arrasasse com tudo. Pelo menos eu não sairia de medrosa e teria fugido da consulta por “motivo de força maior”...
            Levantei-me e, como um gado indo para o abate, fui caminhando até o encontro do meu carrasco.
            _ Bom dia! Entre e fique a vontade.
            Queria poder ter dado a resposta que ele merecia: queria ver você ficar a vontade com as pernas abertas diante de um desconhecido!
            Uma senhora, simpática até, sorria irritantemente o tempo todo. Acho que, no fundo, ela se divertia com o meu pavor. Ela apresentou-se como secretária do doutor e disse que ficaria ao meu lado durante o exame. Como se isso me ajudasse...agora seriam dois me olhando do avesso!
            Vesti um roupão, deitei-me e , de cara ele começou a apalpar os meus seios. Fez um sinal de positivo, anotou algo e explicou que era um exame para ver se eu tinha algum carocinho. E eu ali, fingindo ser tudo super natural. Passamos então para o “ exame interno”.
            Que coisa humilhante!
            Aliás, homem ginecologista é como mulher numa oficina mecânica, pode até ser muito competente, mas não COMBINA!!! Não dá para ser natural, e muito menos aceitar conselhos sobre cólicas, TPM e menstruação de alguém que nem sequer tem um útero!
            Tentei pensar em campo florido, pôr do sol numa praia afrodisíaca, qualquer coisa que fizesse eu mudar o foco daquela situação. Não me lembro como terminou a consulta, nem o que ele me disse. Lembro que fiquei com cãibra no rosto de tanto sorrir sem vontade.
            Demorei um ano até a próxima consulta, mas desta vez com uma mulher, o que, definitivamente, não a tornou menos humilhante. 

JULIANA

Nenhum comentário:

Postar um comentário