segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

POEMA DE CLARICE



Já  escondi um amor  com medo de perde-lo;
Já perdi um amor por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo;
Já tive tanto medo ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei as pessoas que amava da minha vida,
Já me arrependi por isso...
Já passei noites chorando até pegar no sono,
Já fui dormir tão feliz ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos,
Já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram,
Já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem  sou,
Já tive tanta certeza de mim ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois,
Já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, 
Já chorei de tanto rir!
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, 
Já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos ,copos e vasos de raiva.
Já senti muita falta de alguém mas não lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, 
Outras vezes falei o que não pensava para magoar os outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns,  
Já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei mais e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperanças a quem precisava.
Já sonhei demais ao ponto de confundir com a realidade.
Já tive medo do escuro, hoje no escuro me acho, me agacho, fico ali...
Já cai inúmeras  vezes achando que não ia me reerguer,
Já me reergui inúmeras vezes achando que não ia cair mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro por levar embora quem eu amava.
Já chamei pessoas próximas de ‘amigo’ e descobri que não eram
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente, sou diferente.
Não sei amar pela metade, não  sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre.
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos!
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: E daí? Eu adoro voar!

CLARICE LISPECTOR


Nenhum comentário:

Postar um comentário